OLHAR CULTURAL

ANGOLA

HISTÓRIA

Após a independência de Angola, que ocorreu em 11 de novembro de 1975, o país enfrentou um longo período de guerra civil entre diferentes grupos políticos e movimentos de libertação. O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) assumiu o controle do governo, enquanto a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA) se tornaram forças opositoras. A guerra civil durou até 2002, resultando em uma devastação significativa do país. Desde então, Angola tem trabalhado para reconstruir sua economia e fortalecer suas instituições democráticas.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

A poesia, de então, celebra a certeza da liberdade e busca a recuperação da nacionalidade, procurando reconstruir a pátria dilacerada, num projecto poético de resgate da língua literária, com aproveitamento das suas virtudes intrínsecas e universais, mas há ainda referências circunstanciais e o comprometimento ético com as marcas linguísticas locais, que caracterizam a poesia dos anos 50 e 60. A partir dos anos 80, surge uma nova geração de escritores cujo ecletismo é a característica mais marcante.

AUTORES E OBRAS

-Adriano Botelho de Vasconcelos Abismos do silêncio (1996) Tábua (2004); -José Luís Mendonça Quero acordar a alva (1997) Ngoma do negro metal (2000); -João Maimona A idade das palavras (1997) Retrato das mãos (incluído em Festa da monarquia, 2001); -Ana Paula Tavares Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001) Ex-votos (2003) -Maria Alexandre Dáskalos Jardim de delícias (1991) Lágrimas e laranjas (2001).

CONTO

O conto é do livro Quilandoquilo do grande escritor angolano Óscar Ribas, uma das maiores figuras de Angola de todos os tempos: A senhora Maria era exigente na aceitação do homem que a desposaria. Diversos pretendentes se lhe declararam, mas nenhum logrou sua simpatia. Para a senhora Maria, todos eram desprezíveis, sem envergadura física. Em sua ambição, só um a interessava: - o senhor Elefante. Esse, sim, esse é que lhe convinha. Grande, imponente, ninguém ousaria desrespeitá-lo. Vivia a senhora Maria nessa ansiedade, quando o senhor Elefante se lhe apresenta por sua vez. Cheia de satisfação, respondeu-lhe: - Sim, aceito-te para marido, só tu me agradas pela tua corpulência! Dias volvidos, o senhor Sapo aparece em casa da senhora Maria, para mulher também a queria. - Tu, Sapo, é que me vens pretender? Não sabes que aceitei o senhor Elefante, o teu superior? Então tu, assim tão insignificante, nem sequer lhe tens respeito? - Amesquinhou-se a senhora Maria. Desdenhosamente, o senhor Sapo retorquiu-lhe: - Respeito?! Ele é o meu cavalo!... Monto-o quando me apetece!...- E gargalhou zombeteiramente. Como as mulheres não guardam segredo, a senhora Maria contou ao senhor Elefante a prosápia do senhor Sapo. Furioso, o senhor Elefante saiu à cata do senhor Sapo. Encontrou-o numa lagoa, gostosamente cantando sua cantiga. - Xe, salta cá para fora, preciso de falar contigo! Depressa! - Intimou-o o senhor Elefante. O senhor Sapo não se amedrontou. - Fale com calma, tio! Então que coisa, é essa de berrar comigo em minha casa?- Volveu-lhe o senhor Sapo, vagarosamente saindo da água. - Vem comigo, vais repetir à senhora Maria o que lhe disseste a meu respeito! Puseram-se a caminho. O senhor Sapo, dificilmente acompanhando as passadas do senhor Elefante, propõe-lhe: - Como vês, tio, ando devagar. Para chegarmos depressa, deixa-me agarrar-me ao teu rabo. O senhor Elefante assentiu. E o senhor Sapo lá se segurou à cauda do companheiro. A certa distância, queixou-se: - Tio, estou a escorregar, sou capaz de cair. Deixa-me subir um pouco mais acima!... O senhor Elefante anuiu de novo. E o senhor Sapo avançou até ao lombo. - Pára um pouco, tio, está um galho a bater-me na vista, - pediu mais adiante, num sitio coberto de árvores. O senhor Elefante fez-lhe a vontade. E o senhor Sapo cortou uma haste. Quando a senhora Maria os viu - o senhor Sapo, de vergasta na mão, montado sobre o senhor Elefante – desgostosamente exclamou: - Agora acredito no que o senhor Sapo me disse! Tu, afinal, senhor Elefante, és mesmo o cavalo dele! Já não te quero! E o senhor Sapo ficou sendo o marido da senhora Maria.

CRÔNICA

O Bacalhau de Natal - Produzido por PEPETELA

ENTRE AQUILO que Portugal deixou neste pais africano, podemos destacar o costume de se comer bacalhau na noite de Natal. E não se pense que é hábito de reduzida elite urbana, nostálgica de tempos coloniais, que alguns estudiosos gostam de impropriamente cha- mar >. Para já, a população urbana é metade da de Angola e vai servindo de matriz cada vez mais avassaladora da cultura angolana. E o costume está absolutamente espalhado, pelo menos por todas as cidades. Por isso, dois anos depois da Independên- cia, quando tudo faltava nas lojas, o Governo decidiu fazer uma importação especial para o Natal (então oficialmente designado por <>) onde constava o azeite de oliveira, o vinho e, claro, o infalivel bacalhau. Por fortes pressões populares. No ano ante- rior, usara-se peixe seco, à falta de melhor, o que mostra a força do hábito, porque quem não tem cão caça com gato, como costuma dizer o meu amigo Ruy Duarte. O problema que houve com essa impor- tação não foi com o bacalhau nem como azeite, que esses eram de qualidade razoá- vel. Mas foi decidido importar vinho do Brasil e o que veio foi uma bebida fermen- tada feita de frutas outras que a uva. Os gar- rafões apresentavam a marca Mosteiro. Era um carrascão químico da pior espécie, muito fora do nosso gosto do <> (referência à camada de gesso que protegia a rolha dos garrafões do tempo do colono). Depois de algumas experiências aziagas, o humor caluanda, inspirado nas guerras de então, logo mudou o nome da bebida para <>. Completamente desmoralizado, tal produto passou a evitar cá a banda. Encontrei-o um dia numa tasca do Rio e contei a estória ao dono, por sinal português. Ele riu com a mudança de nome operada pelos meus compatriotas e em compensação ofereceu-me um Dão verdadeiro. E sem cobrar, talvez reconhecido. por lhe dar um argumento para as eternas lutas de quem é melhor, entre brasileiros e portugueses. Donde se poderá concluir que por vezes as estórias pagam. Vinho agora é o que aqui não falta, espe- cialmente o português. E o bacalhau lá vai aparecendo, mas os preços dispararam no mercado, o que prova a sua muita procura, especialmente nesta quadra. Ainda hoje ouvi, num inquérito feito por uma estação de rádio num mercado, que é o produto mais requisitado. Tinha de ser. Já a preparação não tem dogma, embora o cozido seja o mais utilizado. E se a quantidade for pequena, reforça-se com um prato da terra: um pirão, um muzonguê, um calulú, tudo pratos de peixe, ou uma moamba de galinha com funje. Qualquer que seja o complemento, é rema- tado no final com feijão de óleo de palma. E muitos bolos e doces à mistura, sem esque- ceras nozes, as passas e os pinhões. Dirão que é comida pesada para jantar ou ceia. Pois é. Mas o toque angolano vem depois: com ou sem missa do galo (bicho este com conota- ções actualmente quase pejorativas, a exigir também a mudança de nome), a digestão vai se fazendo pela noite fora, em bruta farra. Porque a diferença entre a noite de Natal ea de Fim de Ano só está no bacalhau, o fim éo mesmo. E com muito mais razão nesta época de crises e convulsões. Ninguém quer per- der um bodó que pode ser o último. E as tris- tezas só se esquecem bebendo e dançando, mesmo que nos intervalos se façam as mais lúcidas análises politicas e se aproveitem alguns contactos para negócios futuros. Como será o Natal deste ano? Certamente como os outros, a avaliar pela procura de produtos e pela tristeza de dona Zeza, minha vizinha com a filha em Portugal, com bolsa de estudo. A vizinha lamentava-se ontem: nós aqui com farra e tanto panquê (comida), mesmo apesar da guerra, e ela lá, coitadinha, a comer <> na noite de Natal. Porque parece que em Lisboa já ninguém está para cozinhar bacalhau, trocando a camisola para a de fast-food e a ceia por um filme na televi- são, costumes importados da Europa. Desejo que ao menos não seja filme de guerra ou de gangsters americanos, pouco próprios para a quadra. Quanto ao bacalhau, se os portugue- ses estão prontos a renegar a tradição, isso não tem mambo, nós cá a conservamos para que um dia se diga em qualquer enciclopé- dia: ceia de Natal com bacalhau foi costume alienigena, trazido de Angola, que perdurou algum tempo, mas que não resistiu ao fim da colonização, mantendo-se hoje apenas em África. No entanto, apesar de todas as farras e brincadeiras, um qualquer véu aveludará os olhos dos angolanos este ano, mesmo que ninguém a isso se refira. E que muitos de nós acreditámos que este Natal seria o primeiro de toda a familia unida. Afinal, alguns homens não quiseram, sempre OS mesmos. E passaremos mais um Natal com as fami- lias e o Pais partido em dois, mirando-se desconfiados e com dedos nos gatilhos. Comendo uns o bacalhau e os outros raízes. Muitos ficarão engasgados com as espinhas do bacalhau, pensando nisso. Estou certo, por- que imprevisíveis somos, muitas vezes irres- ponsáveis, mas não animais. Muito menos de capoeira.

CHARGE

TIRINHA

POEMA

Tecidos

Meu corpo
é um tear vertical
onde deixaste cruzadas
as cores da tua vida: duas faixas um losango
marcas da peste.
Meu corpo
é uma floresta fechada
onde escolheste o caminho
Depois de te perderes
guardaste a chave e o provérbio.
(TAVARES, p.124)

ENTREVISTA

Em entrevista ao Expresso e à Lusa, no palácio presidencial em Luanda, João Lourenço exorta Washington e Pequim a pôr de parte divergências e mediar conversações de paz entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky. Chefe de Estado angolano enquadra na concorrência comercial entre estas duas potências os “recados” que recebe para ter cuidado com o investimento chinês

REPORTAGEM

“Mutu Mbi” de Levis Albano conquista troféu de melhor filme de ficção angolano"

António Bequengue - Jornalista

O filme “Mutu Mbi”, do realizador Levis Albano, arrebatou o prémio de Melhor Longa Metragem de Ficção Angolana, na II edição do Festival Internacional de Cinema Pan-Africano de Luanda (LUANDA PAAF), na capital do país. Filme “Mutu Mbi” retrata a história de Otchaly Hanji, um artista plástico bem-sucedido. A longa-metragem "Mutu Mbi”, rodada inteiramente na capital angolana e dirigido pelo realizador Levis Albano e produzido pela Mbanji Studio-Audiovisual, com um orçamento de 20 milhões de kwanzas, retrata a história de Otchaly Hanji, um artista plástico bem-sucedido, que após ter assassinado a mulher por ganância, faz recair sobre a sua família uma maldição. Como consequência, uma onda de segredos e mistérios transformam a vida dos Hanjis num verdadeiro ‘inferno’ na terra. O elenco principal da obra é composto pelos actores Sílvio Nascimento, Celma Pontes, Sandra Gomes, Jaime Joaquim, Maueza Monteiro, Eliane Silva, Edusa Chindecassi, Lélis Twevwkamba e Laurinda dos Santos; e conta com a distribuição da Batuque Audiovisual. "Mutu Mbi” é a primeira produção cinematográfica angolana, de gênero ficcional, conta com o apoio de Santanha Cinéfilo, da Geração 80 para produção e de Tekassalas na fotografia.

ESPORTE

Da Independência à Determinação: A Jornada Triunfante da Seleção Angolana de Futebol na Construção da Identidade Nacional

A seleção angolana de futebol teve origem após a independência do país em 1975. Inicialmente desafiadora, a equipe progrediu ao longo dos anos, participando de competições regionais e continentais. A estreia em eliminatórias da Copa do Mundo em 2002 marcou um marco importante. O futebol tornou-se uma paixão nacional, unindo comunidades e representando a determinação e identidade angolana. A história da seleção reflete a resiliência do país e o papel crucial do esporte na construção nacional

RECEITA - BOLO DE AMENDOIM

Ingredientes para massa

4 ovos
1 copo de 200 ml de leite
1 copo de 200 ml de açúcar
1/2 xícara de fubá
2 xícaras e 1/2 de farinha de trigo,
1 xícara cheia de amendoim (ginguba) torrado e sem pele
1 xícara de óleo
1 colher de chá cheia de fermento em pó
1 colher de chá cheia de açúcar de baunilha
1 lata de leite condensado para cobrir o bolo
Amendoim (ginguba) torrado para decorar

VÍDEO DA RECEITA